Wednesday 31 August 2016

A CRIAÇOM

No primeiro dia Deus ergueu-se, emborcando-se da cama. Ergueu-se e abriu os cortinados. Achando umha mourém desconhecida, estalou os dedos, e umha estrela imensa apareceu a xurdir nos horizontes (previamente Deus tinha feito os horizontes, e os cortinados, e a cama). No segundo dia, Deus, encaminhou-se prà cozinha, aqueceu um café e bebeu-no. E o café era quente; e bom. A seguir, Deus foi pra um lugar iluminado, e dixo, «haja livros». E livros, imensos livros, aparecêrom em imensas prateleiras. Mas eles estavam cheios de folhas vazias, e nom prestárom a Deus. Esse foi o terceiro dia (nom o milhor que Deus já tivo).

Dixo entom Deus, haja letras, letras em diversos e variegados formatos, mesmo cores, a formarem palavras, palavras em falas variegadas e ricas, que contem cousas antigas e inventadas, pensamentos dos mais ridículos aos mais singelos, e todas essas palavras ateiguem os livros todos que eu aqui tenho. E foi esse o quarto dia de Deus (claramente melhor ca o terceiro).

Viu entom Deus que a estrela imensa que xurdira polos horizontes, no primeiro dia, tinha já rubido um algo por riba deles, e vendo que eles eram azuis, decidiu chamá-los céus, por falta de outro nome mais ajeitado. E contra o final do quarto dia, Deus já tinha lido tódolos livros que jamais fôram escritos.

No quinto dia, que é o que sempre segue ao quarto, Deus decidiu ir à casa de banho, e sentar a profundar os seus pensamentos na sanita. Alô sentado argalhou muitas cousas, mormente todas as referentes aos seres humanos, que eram os únicos seres capazes de ler os seus pensamentos em tódalas línguas existentes.

Ao sexto dia Deus turrou da descarga, e viu que aquelas augas em correntes autoclísmicas eram boas, pois levavam consigo toda a merda que ele tivêra criado nos cinco dias anteriores.


Chegou entom o séptimo dia, que era quando a estrela imensa dos céus estava no mais álgido deles. E Deus decidiu descansar, pra contemplar tudo o que tinha feito nos seis dias precedentes, sob a estrela imensa que ele criara dum estalo dos seus dedos. E viu Deus que o que tinha feito nom tinha valor nengum, e que tudo estava por faguer. E pensou, «ainda bem». «Fagamos-nos na nossa própria imagem e semelhança, entalado num ser de carne e espírito, feble, fraquinho, que seja quem de dividir o tempo em partes infinitas, e de fazer dum simples respiro umha eternidade. Desfrutemos do contato da auga dumha bilha a cair num pano de cozinha, dumha pegada nua nas areias dumha praia, do ar a nos remexer nos cabelos. Do mar, do mar.» E viu Deus que, afinal, nom era tam ruim ...

Saturday 27 August 2016