No
primeiro dia Deus ergueu-se, emborcando-se da cama. Ergueu-se e abriu os
cortinados. Achando umha mourém desconhecida, estalou os dedos, e umha estrela
imensa apareceu a xurdir nos horizontes (previamente Deus tinha feito os
horizontes, e os cortinados, e a cama). No segundo dia, Deus, encaminhou-se prà
cozinha, aqueceu um café e bebeu-no. E o café era quente; e bom. A seguir, Deus
foi pra um lugar iluminado, e dixo, «haja livros». E livros, imensos livros,
aparecêrom em imensas prateleiras. Mas eles estavam cheios de folhas vazias, e
nom prestárom a Deus. Esse foi o terceiro dia (nom o milhor que Deus já tivo).
Dixo
entom Deus, haja letras, letras em diversos e variegados formatos, mesmo cores,
a formarem palavras, palavras em falas variegadas e ricas, que contem cousas
antigas e inventadas, pensamentos dos mais ridículos aos mais singelos, e todas
essas palavras ateiguem os livros todos que eu aqui tenho. E foi esse o quarto
dia de Deus (claramente melhor ca o terceiro).
Viu
entom Deus que a estrela imensa que xurdira polos horizontes, no primeiro dia,
tinha já rubido um algo por riba deles, e vendo que eles eram azuis, decidiu
chamá-los céus, por falta de outro nome mais ajeitado. E contra o final do
quarto dia, Deus já tinha lido tódolos livros que jamais fôram escritos.
No
quinto dia, que é o que sempre segue ao quarto, Deus decidiu ir à casa de
banho, e sentar a profundar os seus pensamentos na sanita. Alô sentado argalhou
muitas cousas, mormente todas as referentes aos seres humanos, que eram os
únicos seres capazes de ler os seus pensamentos em tódalas línguas existentes.
Ao
sexto dia Deus turrou da descarga, e viu que aquelas augas em correntes
autoclísmicas eram boas, pois levavam consigo toda a merda que ele tivêra
criado nos cinco dias anteriores.
Chegou
entom o séptimo dia, que era quando a estrela imensa dos céus estava no mais
álgido deles. E Deus decidiu descansar, pra contemplar tudo o que tinha feito
nos seis dias precedentes, sob a estrela imensa que ele criara dum estalo dos
seus dedos. E viu Deus que o que tinha feito nom tinha valor nengum, e que tudo
estava por faguer. E pensou, «ainda bem». «Fagamos-nos na nossa própria imagem
e semelhança, entalado num ser de carne e espírito, feble, fraquinho, que seja
quem de dividir o tempo em partes infinitas, e de fazer dum simples respiro
umha eternidade. Desfrutemos do contato da auga dumha bilha a cair num pano de
cozinha, dumha pegada nua nas areias dumha praia, do ar a nos remexer nos
cabelos. Do mar, do mar.» E viu Deus que, afinal, nom era tam ruim ...