Eu som umha renegada
e na pescuda da verdade
hei berrar do alto dos
telhados
Haverás me atopar
vadiando aló quanda o Cruzeiro
Novo
ou parada e sentada no meu
alpendre, descalça
abanando a cabeça
porque já abonda com tantos
perdidinhos
Pro tu haverás me reconhecer
porque eu som ti, meu
Nunca é tarde demais
pra ver mais fundo da
superfície
Acredita, há muito mais neste
trelo
há um mundo além deste mundo
que se enfia raposeiro assi
que amoucas
e tódalas tuas margens começam
a cholucolear
É verdade
Um mundo que está a respirar
a soerguer os ombros e a
chorar
sangrando por feridas abertas
É por isso que eu estou
mancada
de gionlhos e a sentir
tudo o que estou a sentir
Já que logo, vem eiqui
dá acô essa mao
porque eu sei como pegar nela
Eu hei escrever a cada um de
vós um poema
e a seguir pegar lume em todos
eles
Porque eu fico abraiada
de ver como a luz nos teus
olhos
semelha os céus brilantes
Meu, eu loitava mesmo pola tua
vida
como se fosse a minha
Mas esta noite estou a
escrever
tenho eiqui um tarro de vinho
e estou a enrolar charutos
na regueifa comigo mesma
coa gorja inçada
sentada à beira do rio
a ver a Santa Companha
a matinar no que sinto
cada vez que me apertas contra
ti
Eu nom som carne, eu som toda energia
eu importo-me co gênio
tanto me tem a fama e as
figuras
elas som apenas umha argalhada
pra queimardes
Mas endebém há mais
e eu sinto-o tam cru
a chamar-me pròs tempos dantes
É por isso que eu caminho
através das paisagens
é por isso que eu termo dura
no maico
até a mao me tremar
mas elas estám mais iluminadas
ca os mações, meu
Eu estou eiqui com cara de
ferreiro
coa tolémia mesmo ao pé de mim
mas eu nunca pestanejo
eu tenho tinta nas veias
Eu nom me importo coa superfície
Eu nom me importo coa superfície
importo-me co infinito
Eu esgaravelho um tobo e
agocho-me dentro dele
eu me deito no quintal cos
espíritos
pedindo perdom aos nossos
anciaos
e eles dim-me, “cativa, cada
minuto é o minuto pra começar elo
fai-no mais largo”
Mas o que me fai mais forte
tortura-me dum tal jeito ...
Meu,
a cada vez que as estações
mudam
eu quedo completamente tomada
Prò caralho! Eu pego no leme
coma no punho dumha espada
eu som nada galega da leira
Eu som a segunda melhor
regueifeira
que poucos ouvirom falar dela
A primeira, foi umha
argalheira
e eu vou romper no cúmio
aginha
Eu som-vos um velho espírito
mas mantenho umha mente nova
porque o Bleico amossou-me
que aqueles que nom se
deixárom influir
ficam infinitamente abaixo dele
Portanto, se queres falar
vem procurar-me
Eu hei estar na Carreira do
Luisgham
olhando prò abrente a derreter
Repara, eu costumava regueifar
com estranhos quanda o trem
eu nom dava pegado em mim
eu tinha-che os miolos a arder
Eu adoitava moinar
cos bêbados nas bancadas da
devesa
adoitavamos falar das vidas
deles
diziam-me o porque abandonarem
as mulheres
Meu, eu invadia os estrados
sem convite
o entusiamo me vencia
eu tinha algo que dizer
e nom era quem de o conter
Pro mais tarde aprendim a
acougar
e a ser rija e constante
e cada intre mesmo foi
contando
e engadindo ao presente
e assi agora eu sem me
alporizar acougo
e consulto a essência
e agradeço cada bençom
Pro repara, tudo é tam fisico
eiqui
nom sabes, o bêbado na baiuca
enchendo o carrinho
até o mundo sumir ...
E eu deveço por algo sustentável
algo com verdade
algo introcável,
qualquer cousa coma ti, no teu
quarto
namentres a choiva cai
e as fiestras estám-che
abertas
e ela me borrifa na pele
coma o vento mareiro
Ti pra sempre podes-me amar
mas sem nunca precisar de mim
cagho-em-deola se nom eras ti
quem de me completar
Já que logo, esta é pròs
romanticos sem cancelas
é pròs escangalhados, os
abouxados
os puros, os cativos, os
pedantes
os destemidos, os amoucados
a viverem no bandulho da besta
coas ratazanas e os rançosos
e as canelhas encobertas
e nós a morrermos de fame
enquanto eles folgam e pandegam
mas
Banquo há-se erguer
ele tem umha message pròs culpados
Esta é-vos pròs que trabalham
que nem galegos
os sujos, os baldréus
Esta é-vos prà cida’ que me
fixo
e que há me derrubar
se eu nom aprender a direito
Eu som lume que brila
numha piscadela de olhos
eu torno o poder em fraqueza
Imós aló entom, força
vem ao
bar quanda mim
eu hei erguer a cunca ao céu
e amossar-che que ti és o
caralho vintetrês
Escoita, nós nom somos carne
nós somos todo energia
eu importo-me co génio
tanto che-me tem a fama
tanto me tem os louvores
eu importo-me e coa
integridade
porque as figuras só as construídes
pra, afinal, lhes queimardes a
imagem
E eu estou-me achegando mais e
mais
à minha essencia, a cada
vegada ...
Renegada